Em linhas gerais, esses assuntos, ergonomia e acessibilidade, dizem respeito a duas palavrinhas-chave: conforto e segurança em relação a como o ser humano se relaciona com o espaço edificado nas mais diversas atividades. Arquitetos e designers de interiores lidam com espaço edificado e com pessoas. Um espaço mal planejado pode atrapalhar, e muito, a vida do usuário daquele espaço, trazer desconforto e até problemas de saúde física e mental. Tudo o que planejamos para um espaço irá interferir na vida de outra pessoa, seja de maneira boa ou ruim. Profissionais dessas áreas têm uma grande responsabilidade sobre a vida de outras pessoas, seus projetos devem atender a dimensões de conforto e segurança, o espaço deve se adequar às características dos usuários. Pense a respeito.

É comum no início de um curso de arquitetura ou design de interiores o estudante não ter muita noção de espaço, de medidas, e começar a procurar pelas tais “medidas padrão”. Isso gera uma reflexão, o que seria esse padrão? Padrão para quem? As pessoas não são iguais, não só não são iguais fisicamente falando, como possuem necessidades e desejos individuais, usam o espaço de maneira própria.

Complicou? Nem tanto. Como professor, meu conselho para estudantes dessas áreas é que adquiram uma trena e comecem a medir tudo o que encontrarem. Altura de mesa, de bancada, largura de bancada, tamanho de cadeira, corredor e espaço de circulação, e por aí vai. Logo, com o tempo e a prática de projetos, essas medidas mais básicas acabam se tornando comuns.

Uma questão importante atualmente é que temos à nossa disposição muita informação, de forma bem rápida e prática, e ninguém precisa ser uma enciclopédia ambulante. Alguém quer ser uma enciclopédia em plena era pós-digital? Acredito que não. Uma tendência futura é o desenvolvimento de habilidades interpessoais ser mais valorizado do que habilidades técnicas. Entende-se por habilidades interpessoais habilidades como criatividade, liderança, trabalho em equipe, inteligência emocional, comunicação, e que não faz sentido decorar informações, com tamanha quantidade de informações disponíveis a todos.

De qualquer forma, há bibliografias que servem para consulta quando o assunto é ergonomia. Ninguém precisa sair decorando medidas, se preocupar com isso, mas sim usar o material de consulta quando precisar. Embora haja sim bibliografias que apresentam medidas padrão, essas medidas não são leis universais, sempre o que prevalecerá é o usuário, o que ele de fato precisa, como o projeto atenderá às necessidades dele. Nesse sentido, e de uma maneira prática, a ergonomia se relaciona a questões de características humanas de anatomia, antropometria, fisiologia, interferindo nos projetos de arquitetura e design de interiores em questões que tratam de postura, movimentos repetitivos, layout do espaço, saúde, segurança e conforto.

Já a acessibilidade acaba sendo um assunto um pouco mais profundo e delicado. Infelizmente o preconceito ainda é grande para qualquer pessoa que apresente algum problema físico, alguma deficiência, muitas vezes encaradas como improdutivas, que só trazem custos e que dão trabalho. Muitas vezes um indivíduo com deficiência é visto como alguém inferior, incapaz, que não pode trazer grandes vantagens, ser produtivo, é colocado numa posição de inferioridade em relação aos demais, é oprimido, lhe é atribuída uma imagem limitada, depreciativa, não recebe um relacionamento igualitário, a diferença não é respeitada.

Os profissionais de arquitetura e design de interiores precisam ter uma visão social da profissão, ter a consciência de como o trabalho que desenvolvem interfere na vida de outras pessoas, devendo adotar uma ação no sentido de ter uma postura mais humana, desenvolver a empatia, promover o respeito às diferenças, atuar com senso crítico e buscar uma melhora da qualidade da vida pública e o exercício da cidadania. É um trabalho que exige uma profunda autorreflexão, no sentido de conscientização sobre a importância de se ter um ambiente inclusivo e de se lutar contra a alienação social, buscar uma mudança no comportamento, visando o reconhecimento de atitudes preconceituosas, irracionais, expectativas negativas sobre o desempenho de pessoas com deficiências, é necessário reconhecer e respeitar as diferenças e necessidades individuais de cada pessoa.

Como mencionado acima sobre as tais medidas padrão, vimos que essas medidas não existem porque cada ser humano é único, quando o assunto envolve dificuldade ou perda de mobilidade precisamos trabalhar com muito mais cuidado com essa individualidade para proporcionar o máximo de autonomia possível às pessoas e fazer com que se sintam integradas à sociedade de uma maneira muito mais tranquila e natural. Precisamos entender que a sociedade é heterogênea, encarar que existem sim desigualdades e lutar contra isso.

De fato, a legislação por si só não garante a inclusão, não cria dentro das pessoas o sentimento de respeito ao próximo, à diversidade, empatia, não faz com que as pessoas tratem quem tem algum tipo de deficiência como alguém capaz, que possui alguma autonomia, que se integra a sociedade. Não basta existirem as leis se não existe por parte da população em geral uma atitude transformadora, uma postura ética de respeito às diferenças, lutar contra a exclusão em todas as esferas. Existe uma vasta legislação a respeito do tema da inclusão, sendo a principal a Lei Brasileira de Inclusão. Na área da construção civil, a norma que rege todos os projetos e que devemos consultar sempre é a NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

Acredito que o grande segredo para o sucesso em projetos, sejam eles acessíveis ou não, é ter empatia pelo cliente, solidarizar-se com ele, mergulhar na experiência do usuário a fim de entender o problema na perspectiva dele. Se sempre entendermos a situação do ponto de vista do usuário final e evitarmos suposições, nossas soluções atenderão melhor às suas necessidades. Se estivermos comprometidos com o aprimoramento contínuo e em crescimento, iremos alcançar uma solução que funcione de forma muito mais rápida.

Ficou interessado no assunto? A Gare possui uma linha de cursos práticos onde são desenvolvidos projetos, sejam projetos de arquitetura ou projetos de design de interiores, onde o assunto de ergonomia é estudado de maneira prática, como no curso de Desenho de Arquitetura e no curso de Decoração – Projeto de Ambiente.

A Gare também lançará, em breve, um curso livre de Como Projetar um Home Office: Noções Básicas, no qual você conhecerá as bases para o desenvolvimento de um projeto e algumas especificações indispensáveis para a criação de um espaço adequado para o trabalho ou estudo.

Deixe registrado seu interesse que entraremos em contato: [email protected]

Texto por Vinicius Salles – Arquiteto e Urbanista.

2 Comentários

  1. Exatamente isso!!
    Sou fisioterapeuta formada há 20 anos e iniciei o tecnólogo em Design de interiores exatamente com esse pensamento. Em unir a Fisio com o DI, com o intuito de promover a acessibilidade e ergonomia.
    Sempre vejo profissionais oferecendo o kit gabarito disso ou daquilo, mas gabarito para pessoas com um déficit de locomoção por exemplo não funciona. Tem que ser na trena, pensando no cliente (paciente).
    Quero promover sim, acessibilidade, ergonomia com um layout adequado para cada tipo de necessidade dos meus clientes. Irei te procurar professor!

    • Venha sim! Podemos adequar um curso para você e suas necessidades, aos sábados pela manhã.


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