Você já pensou nisso? Que há de fato uma correspondência, uma semelhança, entre o desenvolvimento do desenho infantil e da linguagem artística universal?

A relação entre o desenvolvimento do desenho infantil e o desenvolvimento da linguagem artística da humanidade é um tema estudado na psicologia e na história da arte. Ambos os processos apresentam etapas evolutivas semelhantes, que refletem transformações cognitivas, culturais e simbólicas.

Na visão antroposófica, desenvolvida por Rudolf Steiner, a relação entre o desenvolvimento do desenho infantil e a evolução da linguagem artística da humanidade está vinculada a um processo espiritual e evolutivo da consciência humana. A Antroposofia compreende a arte como um reflexo da alma e do desenvolvimento interior do ser humano, tanto individualmente (como na infância) quanto coletivamente (ao longo da história da humanidade).

1. As Primeiras Fases do Desenho Infantil e a Arte Primitiva

Primeiras Marcas e Garatujas: Assim como as pinturas rupestres feitas pelos primeiros humanos, os desenhos iniciais das crianças (chamados de garatujas) consistem em rabiscos simples e sem representação intencional clara. Nos dois casos, há um processo de experimentação e descoberta de ferramentas e superfícies. A criança, assim como os primeiros artistas, explora formas e marcas espontâneas, sem preocupações com proporção ou semântica, mais focada na experiência sensorial.

Steiner e seus seguidores argumentam que a criança pequena desenha de forma instintiva e simbólica, refletindo um estado de consciência mais próximo do mundo espiritual. Isso se assemelha às pinturas rupestres e às artes das civilizações antigas, que possuíam uma conexão mais direta com o sagrado e com forças cósmicas.

  • Segundo Michaela Stricker (2008), em O Desenho Infantil na Pedagogia Waldorf, as primeiras garatujas das crianças não são apenas rabiscos aleatórios, mas manifestações inconscientes de arquétipos e movimentos interiores. Da mesma forma, a arte nas culturas antigas era fortemente simbólica e ritualística, conectada ao mundo espiritual.

2. O Desenvolvimento da Forma e da Representação – Da Infância à Arte Grega

Desenvolvimento de Símbolos e Figuração Simples: Conforme a criança cresce, ela começa a criar formas que representam objetos ou pessoas, como o desenho de uma figura humana (frequentemente representada por uma cabeça com traços para braços e pernas). Isso é similar ao desenvolvimento da figuração nas pinturas pré-históricas, onde formas animais e humanas começaram a surgir de maneira estilizada e simbólica. Ambos indicam um avanço na capacidade de abstração e no uso de símbolos para representar o mundo.

Conforme amadurece, seus desenhos passam a representar formas mais reconhecíveis. Essa transição é comparada, na Antroposofia, com a passagem da arte primitiva para a arte grega clássica, onde há um maior desenvolvimento da forma e um equilíbrio entre espírito e matéria.

  • Segundo Wilhelm Kelber (1993) em A Arte na Educação Waldorf, a arte clássica grega reflete um momento na história em que a humanidade desenvolveu um equilíbrio entre o mundo espiritual e o mundo físico, algo que também ocorre na infância quando a criança começa a representar o mundo com maior clareza, sem perder sua imaginação.

3. A Fase de Desenvolvimento do Pensamento e a Arte Renascentista

Complexidade e Realismo: Ao atingir uma fase de maior maturidade, por volta dos 7 a 10 anos, as crianças passam a acrescentar detalhes e proporções em seus desenhos, buscando maior realismo. Este desenvolvimento acompanha a necessidade humana de representar o mundo com mais fidelidade, como se vê nas artes da Antiguidade e do Renascimento, onde o domínio técnico e a observação do mundo físico se intensificaram. Esse processo nas crianças é influenciado pela observação e pela incorporação de novas habilidades motoras e cognitivas.

Por volta dos 9-10 anos, a criança experimenta uma crise de identidade e individualização, percebendo-se separada do mundo. Esse momento, na visão antroposófica, corresponde à passagem da Idade Média para o Renascimento na história da arte.

  • No Renascimento, a arte passou a enfatizar a perspectiva, a individualidade e a técnica, refletindo um afastamento do sagrado e uma busca pelo domínio intelectual sobre a natureza. Esse processo é análogo à fase em que a criança deixa de desenhar de maneira intuitiva e simbólica para buscar maior realismo e detalhamento.
  • Referência: John Ruskin, em Os Elementos do Desenho (1857), fala sobre como o aprendizado do desenho é uma forma de desenvolver a percepção do mundo, o que ressoa com a visão antroposófica de que a arte reflete um aprofundamento da consciência.

4. A Arte Moderna e a Expressão da Subjetividade

Criatividade e Abstração: Em fases mais avançadas, algumas crianças e adolescentes passam a explorar estilos mais abstratos, usando o desenho para expressar ideias e emoções de forma menos literal. Isso se alinha com o desenvolvimento da arte moderna, em que o valor da expressão individual e a experimentação estilística se tornaram fundamentais. A arte deixa de ser uma mera representação do visível para ser um canal de expressão subjetiva.

Função Simbólica e Cultural: Em ambas as trajetórias, o desenho serve como meio de comunicação e criação de significados. As crianças, mesmo antes de terem fluência na linguagem verbal, já expressam emoções e percepções em seus desenhos. De forma semelhante, a arte sempre cumpriu funções rituais, sociais e espirituais. Na história da humanidade, a arte evoluiu acompanhando o pensamento religioso, político e social, servindo como uma extensão simbólica da cultura.

No final da infância e adolescência, a criança passa a experimentar estilos e linguagens mais pessoais no desenho. Esse momento pode ser relacionado à arte moderna, quando os artistas começaram a romper com as convenções e buscar novas formas de expressão subjetiva, como visto no Expressionismo e no Surrealismo.

  • Rudolf Steiner descreveu a arte moderna como um reflexo da fragmentação da consciência humana, onde há uma busca pelo eu interior após a perda da conexão natural com o espiritual.
  • Referência: Rudolf Steiner, em A Arte e Sua Missão (1922), explica como a arte reflete diferentes estados de consciência ao longo do desenvolvimento humano e como ela pode ser usada para restaurar um equilíbrio entre o material e o espiritual.

Essas semelhanças revelam como o desenvolvimento do desenho infantil e da linguagem artística humana partem de uma base expressiva intuitiva e avançam em complexidade, técnica e abstração. Ambos refletem a busca do ser humano (ou da criança) por entender, registrar e se expressar sobre o mundo ao seu redor, cada um com sua linguagem e nuances próprias.

Na Antroposofia, tanto o desenvolvimento do desenho infantil quanto a história da arte refletem um processo de evolução da consciência humana. A arte começa como uma expressão espiritual e intuitiva, passa por um período de estruturação e racionalização, e pode, eventualmente, levar a uma síntese mais elevada entre espírito e matéria.

Referências Bibliográficas

  • Steiner, Rudolf. A Arte e Sua Missão (1922).
  • Kelber, Wilhelm. A Arte na Educação Waldorf (1993).
  • Stricker, Michaela. O Desenho Infantil na Pedagogia Waldorf (2008).
  • Ruskin, John. Os Elementos do Desenho (1857)

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