Se tem algo que a pandemia pela covid-19 nos mostrou, e continua nos mostrando, é que a vida pode acabar a qualquer instante. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a expectativa média de vida do brasileiro em 2019 era de cerca de 76,6 anos. Nem sempre essa estatística vai se aplicar às nossas vidas, o que reforça a importância da consciência do agora, do momento presente, do que podemos fazer para viver uma vida cheia de valor e significado, uma vida que vale a pena viver, uma vida que compensa e equilibra suas penas, sendo essas penas as dificuldades, as dores, as tristezas.

O designer de interiores tem uma responsabilidade muito grande com a qualidade de vida das pessoas, devendo visar pelo conforto, saúde, segurança, responsabilidade social e sustentabilidade em seus projetos. Essas questões ganham maior destaque em projetos residenciais, porque é nesse tipo de projeto que o profissional lida com os sonhos dos seus clientes, é algo muito mais sensível de lidar do que em projetos comerciais, a relação com o cliente é diferente em projetos comerciais, embora a responsabilidade também se faça presente

A pandemia e o isolamento social fizeram com que a grande maioria da população ficasse presa em casa, e o espaço residencial ganhou múltiplas funções além da moradia, como, por exemplo, escritório, escola, academia, tudo junto, e ainda, muitas vezes, compartilhados com várias pessoas da família. As pessoas começaram a olhar para dentro de suas próprias casas, vendo a necessidade de transformar suas casas, investir nesses espaços e em qualidade de vida, que é onde entra o papel do designer de interiores e o mercado de reformas de interiores na pandemia, pois a relação com o espaço mudou, as demandas mudaram. Cresceu o interesse por reformas na pandemia, e esse mercado tende a continuar crescendo. Tanto as pessoas com as empresas, de uma maneira geral, viram que o trabalho remoto funciona, produz resultados e reduz custos para as empresas, o que pode levar num pós-pandemia a uma nova configuração do espaço residencial, com demandas para uso múltiplo desse espaço.

Não sabemos quando a pandemia irá acabar, quando teremos de fato o pós-pandemia, mas o designer de interiores lida com pessoas, deve possuir uma sensibilidade para identificar as reais necessidades, tanto do cliente como do espaço que irá intervir. Para isso é fundamental um projeto com um escopo claro e detalhado, com todos os itens que serão necessários para a execução e entrega do resultado. O designer de interiores deve conseguir resolver problemas, unindo forma e função, com criatividade e de maneira satisfatória.

Um projeto bem-feito melhora e muito a qualidade de vida de uma pessoa, ajudando a deixá-la mais organizada e produtiva. Quando focamos corpo e mente em uma atividade é que de fato conseguimos o melhor desempenho possível, vivemos melhor o momento presente, conseguimos uma vida mais plena e inteligente. Isso nos leva a uma vida com mais eficácia, ou seja, quanto mais eficaz formos nas nossas vidas, mais resultados atingiremos, tanto em atividades profissionais como pessoais. Vida boa é uma vida pensada.

A profissão de designer de interiores tem sim um lado bastante técnico e metódico de trabalho, o profissional precisar desenvolver, muitas vezes, o projeto completo composto por plantas, cortes, elevações, perspectivas, detalhamentos, memoriais, orçamentos, enfim, e vivemos num contexto de mundo contemporâneo atual bastante dinâmico, instável, volátil, imediatista, o sistema capitalista cobrando resultados, na qual estresse e ansiedade tornaram-se comuns a muitas pessoas. Porém, essa profissão requer o contato humano, há sempre uma interação, que faz com que o profissional não possa ser substituído por uma simples máquina, é algo que torna a profissão única. O designer precisa pensar sobre a vida dos seus clientes. Clientes precisam mais do que recomendações técnicas dos profissionais, precisam de soluções para seus problemas.

Além disso, cada vez mais o papel do ser humano nas suas relações interpessoais e habilidades comportamentais está se tornando um diferencial no mercado de trabalho, habilidades como criatividade, liderança, trabalho em equipe, comunicação, negociação, flexibilidade e inteligência emocional, sendo essas habilidades mais valorizadas que as habilidades técnicas. O designer de interiores não deve ser alguém que apenas executa tarefas, mas sim alguém que busca desenvolver essas habilidades. Desenvolver essas habilidades também ajuda o profissional reconhecer a importância da sua profissional para a sociedade, atuando de maneira ética e cidadã, em como pode transformar a sociedade com sua profissão, uma postura crítica e reflexiva.

A pandemia trouxe sim muitas penas para o mundo, mas também grandes aprendizados e desafios a vencer, e ainda nesse momento a profissão pôde mostrar como é capaz de se fazer presente. Apesar da demanda do mercado, ainda fica como desafio do profissional ajudar a educar o mercado e a mostrar o seu valor, atingindo e conscientizando cada vez mais pessoas da importância e do que faz um designer de interiores. Muitos profissionais tiveram que se reinventar e buscar novos conhecimentos, o que só agrega valor a esses profissionais. Mesmo no pós-pandemia, é uma profissão que dá para trabalhar de casa e atender à distância. E que esses profissionais continuem proporcionando qualidade de vida a seus clientes, e que seus clientes também tenham suas necessidades satisfeitas.

Vinícius Salles – Arquiteto e professor da Gare.

1 Comentário

  1. As pessoas estavam acostumadas a trabalhar fora de casa, ir a academia, ir a praças e parques entre outros lugares. Mas com a limitação imposta durante a pandemia a casa precisou passar por algumas mudanças. Algumas delas foi necessário intervir fisicamente já outras a intervenção foi bem mais simples. No entanto a visão da casa como um espaço somente de morar mudou totalmente. Com a pandemia as pessoas passaram a dar mais valor a casa. E a casa que era um espaço para morar passou a ser um espaço mais acolhedor e ganhou várias outras funções. Essa mudança foi muito boa para arquitetura. Espero que isso gere cada vez mais trabalhos para nós.
    Um abraço.
    arquitetoversatil.com


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